domingo, 10 de março de 2019

sábado, 30 de maio de 2015

REFLEXÕES SOBRE A VIDA

Houve um dia que nascemos. Nascer significa início da existência. Logo, no momento imediatamente anterior ao nascimento, não existíamos, ou seja, não éramos.. A sensação do não existir é mascarada ou encoberta pelas imagens formadas no nosso cérebro de acontecimentos gravados (vivenciados ou obtidos através de informação) que precederam nossa existência.

Os acontecimentos passados vividos por nós, ou que tomamos conhecimento através de livros, jornais ou pessoas mais idosas, que foram passando de pai para filho de acontecimentos e situações do tempo anterior à nossa  existência. Estas informações ficaram na memória tanto quanto os acontecimentos e situações que vivenciamos desde a hora do nascimento até hoje. Estas lembranças fazem com que nosso relógio biológico se perca no tempo passado dando-nos a sensação de sempre termos existido, criando-se assim a ilusão da eternidade. Talvez essa capacidade de nosso cérebro armazenar conhecimentos e situações experimentadas por outras pessoas seja o que nos torne diferentes dos animais irracionais.

A consciência de um dia não ter existido incomoda tanto o homem quanto a consciência do dixar de existir. Isto por mostrar limites -início e fim. O que foi tentado esconder por todas as religiões e filosofias de todos os tempos. Deixando ser criada a imagem de um homem todo poderoso, semelhante a Deus.Como escrito na Bíblia: Faça-se o homem a minh imagem e semelhança.

Existe o lado positivo na sensação de "todo poderoso". Ao se saber "todo poderoso" o homem se sente capaz de se propor novos desafios, novas invenções, de se sentir livre parar criar, para resolver problemas. O lado negativo também existe: por vêzes uma ideia passada pela mente do homem considera possível, torna-se impossível de ser realizada por fatores inerentes à vontade do homem e el que se sentia "todo poderoso" se depara bruscamente com seus limites e por não ter experimentado a sensação de impotência, passa a se auto-desvalorizar, a se diminuir por vezes entrando em "crises existênciais" ou crises de depressão, as quais, se muito severas e não bem cuidadas, podem levar até o suicídio. Este é o fator mais negativo da cultura religiosa que nos ensina a eternidade e "ser todo poderoso".


A eternidade existe sim, mas é o universo, a natureza que é eterna. Homem, animal, prédios, cidades, planetas, luas, estrelas tudo um dia deixará de existir. Continuarão existindo outros sóis, outras luas, outros planetas, outrs cidades, outros prédios, outros seres, os quais cada um em seu tempo deixará de existir, da mesma maneira que nascerão novos sóis, novas luas, novas cidades, novos prédios, novos seres, perfazendo o moto-contínuo da eternidade.

Os sistemas existirão sempre, independente da existência de cada um dos seus elementos, pois dificilmente todos os elementos que compõem um sistema deixem de existir ou se transforme ao mesmo tempo. Daí a verdade da eternidade.

A mentira da eternidade é afirmar que um homem seja eterno. Cada homem que hoje compõe a humanidade morrerá, uns hoje, outros amanhã, outros no próximo ano, outros nos anos próximos ou distante. Todos morrerão. Eu, você, artistas, políticos, intelectuais, líderes, ditadores, mendigos e ricos, todos morrerão.

O fato de conhecermos pessoas durante toda nossa existência nos torna inconsciente do sentido do fim. Conhecemos a Rainha Elizabeth II, José Sarney, Roberto Carlos, Seu João da Pipoca que continuam vivos fazendo parte das nossas vidas. O fato de estarem vivos nos faz crer, inconscientemente, que sempre estarão vivos. Tanto que quando recebemos a notícia de que alguém que faz parte da nossa vida, direta ou indiretamente, morreu, vem o choque, a dificuldade de enfrentar a perda fatal, como se morrer não fosse uma das fases da vida. E mesmo a pessoa morta continua viva em nossas lembranças, o que nos consola. Somente em nossas memórias a pessoa vive, o que nos alenta. Porém a verdade é diferente e única: ela não mais existe e somos enganados durante todo o tempo por nossos pensamentos até que chegue o esquecimento.

É importante que tenhamos consciência dos limites do existir. Se se teve um início, logo terá um fim. Através dessa consciência e da aceitação dessa realidade é que poderemos levar a vida com verdadeira felicidade.

Se só temos uma vida e esta vida tem um fim, por que não torná-la mais feliz? Sentindo-se feliz por poder chorar, entristecer, sorrir, se entusiasmar, se entristecer, viver com intensidade cada um dos sentimentos.

Morremos sim, não adianta fugirmos dessa ideia através de crenças religiosas ou filosóficas. É através da consciência da temporariedade de nossas vidas que poderemos nos motivar para vivermos em busca de nossos desejos, de nossos sonhos, sem entrar em choque com os valores sociais vigentes e  da natureza, porém abertos para a quebra de alguns paradigmas e construção de novos.

Portanto, vivamos todas nossas emoções!

Texto redigido em 14.05.1987, em Aracaju-SE, Brasil